Texto: João 11.1-3; 6; 14-15(a).
Amados, o título do meu sermão esta noite diz: “Quando Deus se alegra em não estar presente”. Trata-se de um tema, admito, que poderá causar alguma estranheza; todavia, até ao fim da mensagem você compreenderá em que sentido se faz tal afirmação. Não se trata, adianto, de qualquer negativa de quaisquer dos atributos de Deus, antes, de numa forma literária, nos referirmos a realidade do sofirmento cristão.
Porque os cristãos também sofrem? Sendo Deus amoroso, e poderoso para eliminar nosso sofirmento; quando sofremos significa que Ele tem prazer na nossa dor? Ou será que toda vez que sofremos é sinal de que estamos em pecado contra Cristo?
Hoje em dia tais questões estão muito atuais. Por todos os lados surgem mestres triunfalistas que nos dizem que o cristão não tem necessidade de sofrer. Na verdade, chegam ao extremo de afirmarem que o sofrimento, na vida de um cristão, é indicação de pecado, falta de fé, falta de ousadia… O texto que temos em mãos esta noite poderá nos guiar na busca por algumas respostas.
João está nos falando sobre a Ressurreição de Lázaro. Creio que a maioria de vocês conhecem os detalhes da narrativa, de modo que não me deterei em todas elas. Aquele que não conhecem o relato, recomendo que depois do culto, reservem um tempo para ler e meditar nesta impressionante história dos Evangelhos.
Assim, quero destacar alguns dados sobre Lázaro, e que são importantes para o tema que estamos desenvolvendo.
Lázaro era amigo de Jesus. Observem que o homem de quem o texto bíblico nos conta não era um qualquer. Não se trata de um blasfemador, descrente, infiel ou rebelado. Lázaro é descrito na Bíblia como alguém intimo de Jesus. No versículo três encontramos alguém dizendo a Cristo:
“Senhor, aquele a quem amas está enfermo!”.
É provavel que se Lázaro fosse membro de algumas igrejas de hoje, alguém tentaria descobrir qual era o seu pecado; afinal, como sabemos, muitos pensam que o cristão é um super-homem, isento de dores e sofrimentos. Mas, segunda a Bíblia, Lázaro era pessoa intima a Jesus, e estava doente, e sua doença era grave; era uma doença para a morte!
A família de Lázaro era fiel a Jesus. Se Lázaro era um homem fiel ao Senhor, pode ser que sua família não o fosse e, por isso, ele teria sofrido tanto. Quem sabe, alguns de nossos ilustres teológos de hoje o aconselhasse a fazer determinados trabalhos de quebra de maldição familiar, ou hereditária… Porém, aqui também não está a causa de seu sofrimento. De fato, a Bíblia diz que também a família de Lázaro era fiel ao Senhor.
“Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com unguento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo. Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: ‘Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas!’” (Versículos 1-3)
Todavia, Lázaro ficou doente. Mesmo sendo um homem fiel, e ainda que pertencesse a uma família transformada pelo Senhor; Lázaro ficou doente, e sua doença o levaria a morte. Era de se supor que Lázaro jamais pudesse passar por tamanha aflição, se fosse verdade que o crente não pode sofrer. Todavia, as Escrituras nos relatam vários exemplos que contradizem este falso ensino. Poderiamos falar de José, vendido por seus irmãos e aprisionado injustamente por Potifar. Ou então do paciente Jó, que apesar de ter a seu favor o próprio testemunho de Deus, sofreu as dores mais cruíes da tribulação. É verdade que muitos problemas que enfrentamos são frutos das sementes de pecado que plantamos; mas nem todo sofrimento representa o castigo de Deus contra os seus filhos.
A família de Lázaro, com fé, pediu o auxilio de Jesus. Quando a tribulação chega a casa de um homem fiel, qual deve ser sua atitude imediata? Eu diria que o mais sensato é correr para os braços de Jesus. É em Cristo onde o crente pode encontrar alivio e descanço para sua alma. E foi exatamente isso que a família de Lázaro fez. Quando suas irmãs perceberam que os recursos humanos não mais poderiam auxiliar Lázaro; elas fizeram o que devia ser feito: correr para Jesus:
“Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas!” (Versículo 3)
Como você deve saber, nada disso impediu que Lázaro morresse, Apesar de ele ser um homem fiel ao Senhor, veio a enfermar e morrer. Apesar de pertencer a uma família transformada pelo Senhor, veio a enfermar e morrer. E apesar de sua família ter procurado auxilio em Jesus, crendo que Ele era o médico dos médicos, Lázaro veio a enfermar e morrer. Isso te impressiona? Prepara-se, pois vem mais! Nos próximos minutos você descobrirá qual foi a atitude de Jesus ao saber que seu amigo estava doente. Talvez você nunca tenha se dado conta do que descobrirá agora; por isso, peço toda a sua atenção.
Quero chamar sua atenção para duas coisas na atitude de Jesus.
A primeira coisa na atitude de Jesus, encontramos ao ler o versículo seis: “Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde estava”. A notícia era urgente; e a necessidade de Lázaro imediata. Para que Lázaro não morresse Jesus precisava abrir mão de tudo, e correr para Betânia, atendendo ao pedido de suas irmãs. Ou então, era necessário que dali mesmo, Jesus ordenasse a enfermidade que saísse, como já havia feito em outra ocasião. Porém, o Evangelista João faz questãod e frisar que Jesus… não fez nada sobre o caso. Ele ouviu o pedido, e simplesmente ficou no mesmo lugar mais dois dias! Enquanto isso, Lázaro morria lentamente!
A segunda coisa na atitude de Jesus, encontramos na leitura dos versículos quatorze e quinze: “Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto! E me alegro, por amor de vós, de que eu lá não estivesse…”.
Lázaro enfermou, padeceu, e morreu. E Jesus diz aos seus discípulos que estava alegre, apesar de toda aquela situação adversa. Primeiro, ao ouvir a nóticia sobre a enfermidade de seu amigo, Jesus não faz absolutamente nada sobre o caso; depois, ao anunciar aos discípulos que Lazaro havia falecido, ele afirma que está alegre de não ter estado ao lado de Lázaro. Em outras palavras, se ele estivesse ao lado de Lázaro, teria repreendido aquela enfermidade, e sua vontade era que Lázaro morresse.
E aqui entra a pergunta central desta noite: Porque? Por qual motivo Jesus quis o sofrimento de Lázaro? Por qual motivo Jesus simplesmente não repreendeu imediatamente aquele mal? Por qual motivo, cristãos verdadeiros e sinceros, continuam a padecer aflições neste mundo iniquo?
Normalmente nós passamos por cima destas palavras de Jesus. Nós queremos ouvir e pregar o Jesus que ressuscitou a Lázaro! Nós queremos ouvir sobre um Jesus que chorou ao ver o choro de Maria, irmã de Lázaro. Nós queremos ouvir sobre um Jesus que disse: “Lázaro venha para fora!”. Mas, será que desejamos ouvir sobre um Jesus que fez questão de esperar “mais dois dias”, até que Lázaro morresse, e ainda pode dizer: “Me alegro em não ter estado ali!”?
Queremos o Jesus que faz milagres, mas, queremos o Jesus que nos ensina por meio da enfermidade? Queremos o Jesus que prospera as finanças; mas, queremos o Jesus que nos molda por meio das dificuldades da vida? Amamos e louvamos o Jesus que nos faz reinar em vida, andar sobre as águas e passar pelo fogo; mas, continuaremos a louvà-Lo quando descobrirmos que ele que nos matricular na escola do deserto?
A enfermidade de Lázaro pode nos ensinar valiosas lições.
O valor nos nosso conforto terreno é secundário. Deus está interessado, primordialmente, em nossa alma; ou seja, com nosso bem-estar espiritual. Constamentemente, a semelhança de um oleiro dedicado, ele quer nos moldar:
“Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer” (Jeremias 18.4).
As nossas prioridades podem não ser as prioridades do Senhor. Apesar dos meios de transporte da época não serem tão eficientes; as irmãos de Lázaro sabiam que se Jesus quissesse, poderia chegar a tempo de salvar seu irmão. Porém, o que elas não sabiam é que Jesus tinha outras prioridades. Para Jesus, importava mais aumentar a fé de seus discípulos, mesmo que para isso fosse preciso permitir que um de seus mais querios amigos sofresse e enfrentasse a morte!
Os caminhos do amor de Deus, as vezes estão além do nosso entendimento… Ninguém pode duvidar do amor que Jesus tinha por Lázaro. Este mesmo relato comprova tal amor. Quando o Mestre chega na casa enlutada, Ele chora juntamente com suas irmãs. E não só isso, pede ao Pai, e ressuscita seu querido amigo. Jesus amou Lázaro em todos os momentos. Porém, o caminho que Jesus percorreu foi diferente que o caminho que suas irmãos queriam; foi diferente do caminho que eu e você percorreriamos para socorrer um amigo.
Os planos do Senhor, sempre estão regados pelas orações dos justos. Jesus tinha seus planos para Lázaro, e não mudou nenhum milimetro no que havia planejado. Mas Bíblia registra o clamor da família de Lázaro – quando tudo parecia perdido, eles foram a procura de Jesus. E aqui eu quero afirmar duas coisas para você: todos os planos de Deus para a sua vida estão traçados, desde a fundação do mundo; e todos os planos de Deus para a sua vida, serão trazidos a existencia por meio da oração!
Em meio as aflições da vida, você deve e pode orar. Ainda que você se veja como o mais indigno dos crentes, você pode orar, e crer na resposta do Senhor. Parece que alguns cristãos primitivos não tinham muito confiança na oração; ou que não eram dignos de orar ao Senhor. Então, o apóstolo Tiago escreve em sua carta:
“A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos – Elias era homem sujeito as mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto!” (Tiago 5. 15-17).
E termino com uma ultima lição – e que responde as perguntas que fizemos no inicio, referente ao “motivo” de os crentes padecerem aflições. Sim, pois aprendo que Jesus não se alegrou no sofrimento de Lázaro; do mesmo modo que ele não se alegra no meu sofrimento. Antes, ele se alegra por causa do que Ele tem a me ensinar em meio a adversidade.
Leiamos novamente o versículo quinze, desta vez, todo ele: “E me alegro, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis!”.
Eis o motivo: Jesus sabia que a fé dos discipulos precisava ser fortalecida, edificada. Então, ele escolhe consolidá-los na fé por meio de uma grande tribulação: a enfermidade e morte de um grande amigo. Ele não estava brincando com a dor de Lázaro, ele estava edificando a fé de todos os seus seguidores, incluindo o próprio Lázaro! E não só isso, hoje, você e eu, quando lemos este relato, temos a nossa fé igualmente edificada em Cristo Jesus!
As vezes, nos queremos uma resposta urgente de Deus; mas, ele decide esperar ainda “dois dias” a mais… As vezes, nós gritamos seu nome, desesperadamente, pois as águas do Mar da Galileia querem invadir nosso barco; porém, tranquilamente, em silencio total, ele parece apenas dormir… Porém, ainda assim clamamos, e ainda assim confiamos – pois sabemos que quando as nossas forças se acabam, Ele vem com o milagre, e a nossa fé é refinada como o ouro!
Amém!
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