quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Ministério das Varas Verdes

Tomou, então, Jacó varas verdes de álamo, de aveleira e de plátano e removeu a casca, em riscas abertas, deixando aparecer a brancura das varas” (Gn 30.37)

Introdução
Um discípulo, como define a apóstola Valnice Milhomens, é “aquele em cuja vida o mestre e se reproduz”. A reprodução do caráter de alguém na vida de uma outra pessoa é chamada DISCIPULADO. Jesus não nos mandou fazer “convertidos”, Ele nos ordenou fazer “discípulos” (Mt 28.19). Nossa meta é deixar o Espírito Santo desenvolver em nós o caráter sublime do Mestre e reproduzirmos em outros esse caráter até que esse processo se estenda numa cadeia sucessiva, até que o mundo tenha sido alcançado pela Mensagem do Evangelho.
Gostaria de me servir desse texto curioso para lançar um pouco de luz sobre fatores que envolvem o discipulado de vidas:

1. A matéria prima do discipulado: “Varas verdes”

“Tomou, então, Jacó varas verdes”

Em seu engenhoso plano para fazer prosperar seu rebanho, Jacó fez uso de varas verdes para obter o resultado que esperava. “Varas verdes” são mais fáceis de trabalhar por serem mais tenras e, portanto, flexíveis ao manuseio. Essa é uma figura perfeita para representar o trabalho do discipulado, pois nosso papel é investir naqueles que têm a flexibilidade para serem acompanhados. Você já tentou trabalhar com madeira seca? Ela já envergou o que pôde, não se amolda mais a nenhuma tentativa de remodelagem. Qualquer esforço para envergá-la pode quebrá-la e frustrar o trabalho.
Jesus, ao iniciar Seu ministério terreno, escolheu para si doze “varas verdes” onde trabalhou ardorosamente durante três anos moldando seu caráter e imprimindo uma nova identidade. Havia muitas pessoas “prontas” em Sua época, no entanto já era madeira seca, tinham seus próprios conceitos e “vícios”. O próprio João Batista preferiu entregar seus discípulos a Jesus a sujeitar-se a uma nova formação. Vemos isso muito claramente quando percebemos a discrepância entre os dois estilos de ministério: “Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras” (Mateus 11:18). Não é o caso de João, mas parece que para alguns é mais fácil apontar o Cordeiro do que seguí-lo! Mais tarde, um texto dá-nos a impressão que João não estava tão seguro de que Jesus era mesmo o Messias prometido (Mt 11.3) e parece que mesmo após liberar seus discípulos para irem após Jesus, ele conservara ou adotara um novo grupo (Mt 9.14; Mc 2.18), o que mostra que o estilo de discipulado de Jesus era diferente do de João. De fato, algumas pessoas podem ser uma grande bênção para o Reino e continuarão dando sua contribuição relevante para o mundo, contudo, não são varas verdes e por isso não estão aptas para o processo de multiplicação. Devemos pedir a Deus em oração que nos dê um caráter moldável a fim de sempre estarmos prontos a mudanças estratégicas.
Todos nós um dia fomos “varas verdes”. Pense um pouco sobre as atitudes imaturas que cometeu durante sua caminhada cristã e até mesmo sobre o trabalho que deu aos seus líderes! Certamente Deus não nos descartou por isso, mas continuou investindo em nossas vidas, porque esse é o ofício do Carpinteiro da Galiléia. Em um processo continuo, Ele nos forma e nos modela àquilo que deseja. Todos nós estamos nesse processo e Ele continuará trabalhando em nós enquanto formos tratáveis.
Olhe ao seu redor e veja quantas “varas verdes” estão disponíveis para serem trabalhadas e transformadas em colunas na casa de Deus. Não despreze nenhuma delas, pois Deus as usará de forma surpreendente para trazer a multiplicação em sua vida e ministério.

2. No processo de discipulado é necessário “removermos a casca”

“E lhes removeu a casca”

Para que a “brancura de Cristo” se evidencie em nós, é imperativo que nos desvencilhemos da velha natureza, que está ligada ao velho homem: “no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano” (Ef 4:22) – “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos rodeia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta” (Hb 12:1).
As “cascas” também representam as velhas estruturas que emperram o mover do Espírito na Igreja de Cristo. Muitas vezes elas vêm na forma de tradicionalismo e resistência ao novo de Deus, também se revelam nas críticas e nos famosos “achismos” que resistem fortemente à revelação do Espírito, essas cascas também aparecem como controle e manipulação e como rebelião, mas a forma mais nociva é por meio da religiosidade. A religiosidade é uma carapaça maligna que envolve a mente de muita gente fazendo-as pensar que não necessitam de discipulado por se encontrarem num nível de santidade e maturidade espiritual acima dos outros. Na verdade com a verdadeira maturidade vem a submissão e a necessidade de sujeitar-se a um discipulado.
Quais as “cascas” que permanecem em nossas vidas impedindo-nos de revelar a beleza do caráter de Cristo? Que estruturas de engano ainda estão apegadas à nossa mente privando-nos de sermos frutíferos? Sonde sua vida debaixo do temor de Deus e identifique as “cascas” que precisam ser removidas.

3. No discipulado somos expostos a um processo de cura e libertação

“Em riscas abertas”

Crescimento espiritual pode ser, em alguns momentos, um processo doloroso, pois a remoção de velhas estruturas pode significar praticamente em amputação, uma vez que algumas atitudes já estão tão intrinsecamente ligadas a nós que já se tornaram parte de nossas vidas, como um membro. Contudo essa “amputação” não significa “mutilação”, visto que apenas permanecerá o que for de Cristo.
As “riscas abertas” representam o processo de cura e libertação que necessitamos passar, expondo nosso conteúdo interior a fim de receber transformação. Só chagarão num nível de cura e libertação satisfatórios aqueles que estão livres da religiosidade e justiça própria, reconhecendo suas falhas e submetendo-se ao tratamento do Espírito Santo.
Paulo declara: “Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus” (Gálatas 6:17). Era evidente na vida de Paulo as “riscas abertas” que foram marcando sua vida, mas produzindo nele um caráter cada vez mais aperfeiçoado. Nesse processo há muita renúncia, liberação de perdão, libertação de amarras que prendem a alma e sentimos a dor do nosso pecado que esmagou Cristo naquela Cruz: “para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte” (Filipenses 3:10). É nesse momento que muitos desistem e acabam abortando a promessa de multiplicação para suas vidas, pois não estão dispostas a enxergarem suas mazelas espirituais e reconhecerem a necessidade de humilhação e dependência.
Esse pode ser um trabalho doloroso, tendo em vista o fato de algumas dessas estruturas estarem tão arraigadas em nós que até já fazem parte de nós, mas é um trabalho que decidirá nosso crescimento. Se quisermos que a glória de Cristo se manifeste em nossas vidas, é preciso passar por esse processo de limpeza. Quando as pessoas enxergam a glória de Deus em nossas vidas, então elas conceberão exatamente o que estão contemplando, isso porque o caráter de Cristo é exatamente o objeto de nossa contemplação: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Coríntios 3:18).

3. O propósito do discipulado é deixar o caráter de Cristo se evidenciar por meio de nossas vidas

“Deixando aparecer a brancura das varas”

A visão de discipulado é uma visão de santidade. Sem santidade, diz a Escritura, ninguém verá a Deus (Hb 12.14). É quando rompemos com o pecado que a nova natureza se manifesta em nós: “no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.22-24). Essa “brancura” é a vida de Cristo se manifestando em nossas vidas por meio do fruto do Espírito (GI 5.22-25). O desejo do Pai é que cheguemos até o nível de Gálatas 2.20 — é quando essa brancura se evidência em plenitude.
Santidade não é algo que só se manifesta na igreja, na presença dos irmãos e do pastor, mas em toda parte. Assim como aquelas varas estavam por toda parte onde as ovelhas se viravam, a manifestação de Cristo em nossas vidas precisa ser percebida por onde quer que andemos a fim de alcançar o maior número possível de pessoas. Nosso estilo de vida deve marcar um padrão de conduta que inspire as pessoas a desejarem ser como Jesus. As pessoas ao nosso redor devem olhar para nós e se sentirem desafiadas e desejosas de seguir o nosso modelo: “Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna” (1 Timóteo 1:16). Contudo o contrário também é verdade, pois se a brancura do caráter de Cristo glorifica o Seu nome, o pecado e o mau testemunho fazem os ímpios blasfemarem: “Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa” (Romanos 2:24).
Cada vez que somos feridos e golpeados pelas circunstâncias da vida, temos a oportunidade de revelar o fruto do Espírito em vez de destilarmos amargura, rancor e rebeldia. São nas horas de aflição e testes que podemos deixar Cristo reinar, mostrando ao mundo que podemos ser diferentes. O que nossa família, amigos e irmãos em Cristo têm visto em nós nesses momentos?

Conclusão

O resultado é automático: “E concebia o rebanho diante das varas, e as ovelhas davam crias …“ (Gn 30:39). É aqui que o discipulado acontece, é exatamente aqui que veremos o rebanho do Senhor se multiplicando, como as ovelhas fortes de Jacó! (Gn 30.41,42).
Amados, apaixonemo-nos pelo discipulado. Não há nada que alegra mais o coração de Deus do que ver uma multidão de pecadores que agora manifestam o caráter de Cristo e reproduzem isso na vida de outros. Não esqueça: “cada semente produz de acordo com a sua espécie”. Deixemos, portanto, Cristo ser reproduzido em e através de nós por meio do discipulado eficaz.
Submetamo-nos a essa aventura que transformará as nossas vidas e a de outros até que nossa geração seja alcançada.

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