Alécia Machado Reuter Motta
“No primeiro mês, aos catorze do mês, no crepúsculo da tarde, é a Páscoa do Eterno.”
(Levítico 23:5)
Um Mandamento Divino
Memorial e estatuto perpétuo
“Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade ao Senhor; nas vossas gerações e o celebrareis por estatuto perpétuo.” (Ex 12:14)
Aspecto Histórico
Também chamada por Zemán Cheruteinu, “o tempo de nossa liberdade”, Pessach é a festa que evoca a transformação das doze tribos descendentes do patriarca Jacó em um povo, e o êxodo deste povo do Egito, chegando finalmente à sua libertação. Esta saída do Egito é mencionada inúmeras vezes na Bíblia Sagrada, nas orações, nas tradições judaicas e representa a pedra fundamental da constituição do povo como tal.
A promessa de D’us para o povo de Israel
“Portanto, dize aos filhos de Israel, Eu Sou o Senhor, e vos tirarei de debaixo das cargas do Egito, e vos livrarei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes manifestações de julgamento. Tornar-vos-ei por Meu povo e serei vosso D’us, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito. E vos levarei à terra a qual jurei dar a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vo-la darei como possessão. Eu Sou o Senhor.” (Ex 6:6-8)
Na oportunidade, os escravos eram os israelitas, que não tinham como alcançar sua liberdade, e necessitavam de alguém que fizesse isto por eles. E foi isto que o Senhor fez por Israel; toda redenção acontece porque um preço é pago. Neste caso, a fiança foi o sangue do cordeiro da Páscoa.
O povo de Israel foi resgatado da morte e da escravidão egípcia. A verdadeira redenção significava que eles estariam livres da crueldade dos egípcios, para servir a um D’us vivo.
Moisés
O chamado de Moisés foi significativo. Na corte de Faraó, monarca egípcio, Moisés percebeu que teria de entrar em choque com as autoridades. Relutou portanto, em solicitar livramento para Israel.
D’us assegurou a ajuda Divina a Moisés, provendo-lhe três milagres que dariam credibilidade diante dos israelitas; a vara que se transformava em serpente, a mão leprosa e a água transformava em sangue. Isso fornecia base razoável para o povo de Israel acreditar que Moisés recebera comissão da parte do D’us dos patriarcas.
Contenda com Faraó
O aparecimento de Moisés na corte real, exigindo a soltura do povo de Israel foi um desafio ao poder de Faraó.
As pragas que se sucederam durante um período relativamente curto, demonstraram o poder do D’us de Israel, não somente para Faraó e para os egípcios, mas também para o povo de Israel.
D’us permitiu que Faraó vivesse, tendo-o dotado da capacidade de resistir às propostas Divinas. (Cf Ex 9:12 – 14:17)
O propósito das pragas, o que é claramente revelado em Êxodo 9:16, era o de mostrar o poder de D’us em favor de Israel. O governante do Egito, foi então desafiado por um poder sobrenatural.
Negociações
Moisés negociou a libertação do povo judeu, submetido ao trabalho escravo. Estas negociações eram reforçadas a cada nova praga que atingia o Egito (sangue, rãs, piolhos, moscas, peste no gado, úlceras, saraiva, gafanhotos, trevas e a morte dos primogênitos), porque o rei negava-se a conceder a liberdade ao povo de Israel.
Duas semanas antes do êxodo do Egito
Antes da execução da última praga – a morte dos primogênitos – no primeiro dia do mês de Nissan, o povo de Israel recebeu instruções específicas de D’us por meio de Moisés, como está descrito em Êxodo 12. Era o mês da primavera de Abibe. Esse seria o mês para a sua física redenção da escravidão para nunca ser esquecida.
Um cordeiro ou cabrito de um ano e sem defeito foi selecionado no décimo dia do mês de Abibe. O animal foi morto no décimo quarto dia, quando caia a tardinha, e seu sangue foi aplicado à vergas e ombreiras da porta de entrada de cada casa. Completadas as preparações para a partida os israelitas comeram a refeição da Páscoa, que consistiu de carne, pão sem fermento (matzá) e ervas amargas.
O êxodo do Egito
“Porque naquela noite, passarei pela Terra do Egito e ferirei na Terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até os animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu Sou o Senhor.” (Ex 12:12)
Quando Faraó tomou conhecimento de que o primogênito de cada lar egípcio fora morto, dispôs-se então a dar permissão para dar a saída do povo judeu.
A incapacidade de Faraó e de sua gente para neutralizar as pragas, demonstrou aos egípcios a superioridade do D’us de Israel em comparação com os deuses que eles adoravam, como nação politeísta que eram.
Semelhantemente Israel, tomou consciência da intervenção Divina e de sua onipotência. Deixaram imediatamente o Egito sob ordem de Faraó.
“Então naquela mesma noite Faraó chamou a Moisés e Arão e lhes disse: levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos de Israel; ide, servi ao Senhor, como tendes dito.” (Ex 12:31)
A esta repentina ordem de saída, deve-se a tradição dos “pães asmos” – matzot – que caracteriza a Festa de Pessach.
Instituição da Festa de Pessach
A observância da Páscoa servia de lembrete anual de que D’us os libertara da escravidão. O mês de Abibe que mais tarde passou a ter o nome de Nissan, dali por diante assinalou o começo do ano religioso do povo judeu, ou seja, “Pessach marca o começo do ano Sagrado”.
“Este mês, será para vós, o primeiro mês, o primeiro mês do ano.” (Ex 12:2)
Pessach é a primeira festa fixa do ano no calendário judaico. Começa no dia 14 de Nissan ao pôr-do-sol. Em nosso calendário este ano, 24 de abril. Prolonga-se por sete dias em Israel e por oito dias na diáspora (30 de abril ao pôr-do-sol).
O primeiro dia representa a saída do Egito e o sétimo, a passagem pelo mar vermelho que os judeus atravessaram em terra firme e seca cantando a shirá (canção de louvor). Os dias intermediários são chamados de Chol Hamoed. Na diáspora, acrescentou-se um dia festivo, o oitavo dia, instituído pelos judeus sefaraditas da Espanha.
Pessach significa “passar por cima, saltar”. Assim se denominou esta festa porque o Anjo que matou os primogênitos dos egípcios “saltou”, isto é, “passou por cima” das casas judias, poupando a seus filhos mais velhos.
“Pessach ocorre sempre na primavera em Israel”
Os preparativos para a Festa de Pessach
Começam antes da festa propriamente dita (na noite anterior ao dia 14 de Nissan). Limpam-se as casas, para que não permaneçam nenhum “chamêts” (alimento fermentado, proibido em Pessach), em obediência à uma prescrição bíblica contida na Torá em (Ex 12:18-20) e no Segundo Testamento em (I Co 5:7-8), a seguir: “No primeiro mês, aos quatorze dias do mês, à tarde, comereis pães asmos até vinte e um do mês à tarde. Por sete dias não se ache nenhum fermento nas vossas casas. E qualquer que comer pão levedado será eliminado da Congregação de Israel, tanto o peregrino, como o natural da terra. Nenhuma coisa levedada comereis. Em todas as vossas habitações comereis pães asmos.”
(Ex 12:18-20)
“Lançai fora o fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como sois sem fermento. Pois Yeshua (Jesus), nossa Páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que celebremos a Festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade.”
(I Co 5:7-8)
A queima do Chamêts
Na manhã da véspera do Seder de Pessach, incinera-se o chamêts encontrado na noite anterior e, em seguida, anula-se todo chamêts, remanescente. A eliminação do fermento tem um simbolismo espiritual importante para nós. Aprendemos que o fermento simboliza nossos defeitos pessoais, nossa altivez e orgulho. As vésperas de Pessach devemos fazer um profundo exame de consciência, a fim de analisarmos nossos atos e nosso comportamento no dia a dia e, assim, com a ajuda do Espírito Santo sermos capazes de eliminar o fermento que está dentro de nós, por completo.
Etapas da celebração de Pessach
Qaddesh: pronuncia-se o Qiddush, benção do vinho e benção da festa.
Ur’hats: o chefe de família (ou o oficiante) lava as mãos.
Karpas: come-se do cerefólio (igual a salsa) molhado no vinagre ou água com sal. A escravidão, no começo, foi agradável – comia-se à vontade no Egito -, mas depois se tornou amarga.
Yahats: divide-se o matzá pelo meio, em duas metades, ficando uma reservada para o fim do Seder, quando se distribuirá para que o sabor da festa permaneça.
Magguid: faz-se a narração da saída do Egito, usando-se, de preferência, o comentário de (Deuteronômio 26:5-8).
Rahads: lavagem das mãos com bênçãos.
Motsi Matzá: benção do matzá que se expõe antes de ser dividido.
Maror: bênção das ervas amargas molhadas na massa, haroset (a amargura da escravidão tornou-se doçura, graças à salvação.
Korekh: em memória do patriarca Hillel, misturam-se as ervas amargas ao matzá, segundo (Ex 12:8).
Shulhan’orekh: prepara-se a mesa, é a refeição.
Tsafun: come-se a porção do matzá que foi guardada e escondida, o “afikoman”.
Barekh: benção depois da refeição.
Hallel: conclui-se com salmos do Hallel.
Nirtsah: desejo final.
Nota: no trivial do Seder servem-se:
- Três matzot: no início do Seder, divide-se a porção do meio, em duas; destas, separa-se um pedaço, guardando-o para o fim, como o afikoman; a primeira metade superior do matzá mais a metade restante do meio vão ser distribuídas no decorrer do Seder, a outra metade inferior do matzá servirá para ilustrar o gesto do patriarca Hillel que, de acordo com a prescrição de (Nm 9, 11), comia o cordeiro pascal e as ervas amargas com o pão asmo.
A mesa posta, no Seder, a ceia e o relato contido na Hagadá, obedece a uma ordem tradicionalmente sagrada.
A Hagadá de Pessach, que relata toda história da libertação do povo judeu, pretende reforçar o elo de ligação entre as gerações, possibilitando a todos acompanharem juntos as lições que há milênios os antepassados judeus viveram no Egito, culminando com sua libertação.
O Seder marca o início de uma nação judaica livre.
Elementos básicos para o Seder Judaico e seus significados:
Mesa: é preparada utilizando-se louças nobres
Velas ou a Menorá: são acesas pelas mulheres. A vela fala da luz Divina, afastando as trevas.
Hagadá: livro para o acompanhamento das leituras.
Matzá: pão sem fermento, separados em três fileiras principais, tipificando a geração de Abraão, Isaque e Jacó ou as famílias Cohen, Levi e Israel. Simboliza a abertura do Mar Vermelho.
Vinho ou suco de uva: as quatro taças representam as quatro etapas da redenção: saída da escravidão, saída do Egito, afundamento do exército de Faraó no mar e entrega da terra prometida a Israel.
A taça de Eliahu: grande e bonita, é reservada para a chegada do Messias.
Água e sal: numa vasilha, onde são mergulhados o Karpás (salsão ou aipo) e o ovo. Representam as lágrimas do povo judeu pelo sacrifício diário de crianças feito pelo Faraó, na ilusão de curar as lepras.
Keará: bandeja ou travessa onde são colocados os seguintes elementos:
Zeroá: pedaço de osso assado, representando o cordeiro pascal.
Betzá: ovo cozido, que representa o luto de não poder celebrar o sacrifício da Páscoa, pois, o Templo não mais existe. O ovo não tem ponta, o que lembra a humildade da morte, pois dela ninguém escapa. Também simboliza o povo judeu que, quanto mais perseguido, mais forte se torna.
Maror: as ervas amargas. Traduz-se pelo amargo, pelo sofrimento da escravidão, pela tristeza do trabalho forçado, pelas crianças que eram sacrificadas, quando o trabalho de Faraó não era alcançado.
Charosset: massa doce, cor de tijolo, contendo massa de nozes, maçãs picadas com canela e vinho. Relembram os tijolos que os judeus fabricavam no cativeiro do Egito: com isto, se procurava suavizar as ervas amargas e recordar que a amargura se mudou em doçura, pela força salvadora de D’us.
Karpás: salsão ou aipo. Representa o trabalho árido, do povo escravo.
Chazeret: alface romana. Tem o mesmo significado do maror.
Conclusão: O Seder de Pessach, se mantém até hoje, como o acontecimento mais marcante da Páscoa judaica.
A celebração enriqueceu-se no decorrer dos séculos, sobretudo após a destruição do Templo: desaparecido o sacrifício pascal, a narração, Hagadá, ganhou maior importância. Mantendo-se inteiramente fiel à estrutura e à liturgia antigas, atestadas pela Mishnah, a Hagadá, tornou-se a composição original da tradição oral, conforme a conhecemos desde as primeiras Hagadás escritas, datadas do século X. Aí se encontram harmoniosamente ordenados, ritos, passagem da Escritura com comentários, Salmos, cânticos e histórias.
Assim todo ano a Festa de Pessach reúne em volta da mesa do Seder famílias e comunidades na observância de um Mandamento prescrito na Bíblia Sagrada.
O pai de família ou o sacerdote é o oficiante, o filho mais novo faz perguntas, todos lêem o texto da narração; canta-se, ora-se, trocam-se idéias, comem-se as ervas amargas adoçadas pelo harosset, experimenta-se a insipidez dos pães asmos, sorve-se o vinho das quatro taças, uma a uma. Do menor ao maior, revive-se a saída do Egito, porque é para todos que Pessach se cumpra ainda hoje.
O mês de Nissan assinala o início de uma nova época, marcando o começo da Instituição Espiritual que possuiria novos hábitos, novos costumes elaborados pelo Eterno, dentro dos padrões Sagrados de Hashem, especialmente para um povo livre. Liberdade de uma escravidão passada alcançada por nós através do sacrifício perfeito em Yeshua HaMashiach, Jesus o nosso Messias.
Hag Sameach Pessach!
A contagem dos dias do ômer
Sefirat Haômer
Pessach (Páscoa) e Shavuot (Pentecostes) são festas estreitamente interligadas. São ligadas por meio de uma contagem diária dos dias - “Sefirat Haômer”. O povo de Israel ao partir do Egito recebeu a Torá (Lei) sete semanas mais tarde no Monte Sinai. Todos os anos esta jornada é lembrada através do Sefirat Haômer (Contagem do Ômer), por quarenta e nove dias. Começa a contagem na segunda noite de Pessach, quando eram trazidos a D'us a oferta de um ômer de cevada, o primeiro fruto da terra que amadurecia no país (o ômer é uma antiga medida de capacidade, que equivale a uns quatro litros aproximadamente). A partir dessa data contava-se sete semanas, e no final das sete semanas, celebrava-se “Shavuot” – recebimento da Lei e a descida do Espírito Santo.
CLIQUE AQUI para visualizar as orações para a contagem do ômer.
ALGUMAS PALAVRAS SOBRE PESSACH, E A IMPORTÂNCIA DO INÍCIO DO CICLO
Pesach (Páscoa) nos faz lembrar a libertação e servidão egípcia, e assinala uma nova época. Portanto a Páscoa marca o começo do Ano Sagrado.
“Este mês, será para vós, o primeiro mês, o primeiro mês do ano.” (Ex 12:2)
“Também guardarás a Festa das semanas, que é a Festa das primícias da ceifa e do trigo, e a Festa da colheita no fim do ano”. (Ex 34:22)
Na tradução original diz assim:
Nissân assinala o início de uma nova época, marcando o começo da Instituição Espiritual que possuiria novos hábitos, novos costumes, elaborados pelo Senhor, dentro dos padrões Sagrados de Adonai, especialmente para um povo livre.
“No primeiro mês, aos quatorze do mês, pela tarde é a Páscoa ao Senhor.” (Lv 23:5)
O povo de D'us tem então dois anos, um civil e outro Sagrado.
O ano civil dá início ao sétimo mês “Mês de Tishri” (setembro e outubro), no outono.
Dotado de um calendário especial, o povo de Adonai recebe uma nova identidade, como povo favorecido, protegido, que possui boas qualidades e condições propícias para empreender com confiança seu caminho de volta a Terra Prometida.
VÁRIAS RAZÕES ESPECIAIS QUE FAZEM DO MÊS DE NISSÂN UM MÊS GLORIOSO.
1º. A Midrash nos ensina que existe uma ligação entre o dia da inauguração do Mishkan (Tabernáculo) e o primeiro dia da criação do mundo. No início da criação até o dia em que a Shekhiná desceu no Mishkan, universo estava ausente de uma perfeição espiritual. Todavia, neste dia Baiom Hashemini (oitavo dia) (Cf. Lv 9:24) da descida da Shekhiná no Mishkan que o propósito da criação foi realizado.
2º. Pela primeira vez os Kohanim (Sacerdotes) realizaram o trabalho de oferecer os sacrifícios.
3º. Pela primeira vez foram oferecidos e trazidos os sacrifícios coletivos (comunitários).
4º. O Fogo Divino desceu, consumiu as ofertas demonstrando publicamente que o Senhor recebeu as ofertas.
5º. Pela primeira vez sacrifícios foram comidos em área específica determinada pela Torah. (Cf. Lv 10:12-15)
6º. Neste dia a Shekhiná desceu no Mishkan (Tabernáculo) demonstrando a manifestação concreta da presença do Eterno.
7º. Os Kohanim (sacerdotes) abençoaram o povo com Brichat Ha'Kohanim (a benção sacerdotal) que se encontra. (Nm 6:22-27) (Cf. Lv 9:23a)
8º. Pela primeira vez os altares privados "Bamos" foram proibidos de serem feitos, pois todos os sacrifícios deveriam ser oferecidos no altar central do Mishkan.
9º. Pela primeira vez desde de Matan Torah, Nissâm passou a o ser primeiro mês de todos os meses dando assim início, ao Ano Sagrado.
O Senhor te abençoe e te guarde. Em nome de Yeshua HaMashiach. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário