quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Que tipo de gente estamos nos tornando? - 2ª Parte

Texto: Gênesis, 43

Penso que à medida que caminhamos com Deus, deveríamos nos tornar pessoas diferentes, ou melhor, pessoas de um caráter excelente. Pessoas de uma bondade sem igual; pessoas de uma doçura singular, gente de outro calibre. Pessoas com uma nobreza digna de serem chamadas de cristãs, ou seja, parecidas com Cristo.
Alguma coisa deve ter saído errado. Pois as pessoas estão lotando as igrejas, mas permanecem as mesmas.

Gosto do que o pastor Josué Gonçalves escreveu sobre o assunto:

“A oração em primeiro lugar, muda quem ora. Se você diz que está orando, mas não se sente transformado, então pare e repense o que está fazendo, pois isso não deve ser oração! Quando oramos, nós nos tornamos melhores homens e mulheres, melhores filhos e filhas, empregados e patrões.
Todas as nossas relações são transformadas e toda nossa maneira de ser é mudada. Certa vez, eu ouvi uma ilustração muito interessante: Se, durante uma noite, um ferro comum fosse colocado ao lado de um imã, no dia seguinte, o ferro, antes sem magnetismo, estaria imantado! Quem passa muito tempo com Deus vai sendo ‘magnetizado’ por ele, vai ganhando o brilho da glória do Senhor”.

Para orar bem você precisa de...
Editora Mensagem para todos pg. 12

1)José se tornou um tipo de homem raro, que deposita inteira confiança no caráter de Deus. V 26.

Notem a expressão: “... Curvaram-se diante dele até o chão...” Estava se cumprindo os sonhos que Deus havia dado a José, a pelo menos 20 anos atrás.
Isso explica porque José mesmo sendo o governador do Egito, e tendo condições de procurar saber de sua família, todavia, não o fez. Preferiu continuar acreditando no que seu Deus havia lhe falado através de sonhos ainda em sua mocidade. Cf. 37. 6-7.

Nas igrejas, principalmente nas chamadas neo-pentecostais, fala-se muito sobre ter fé, mas será que entendemos todas as implicações do que verdadeiramente significa ter fé?
Vemos um homem cheio de promessas grandiosas de Deus para sua vida, no entanto, este homem foi vendido como escravo e levado para uma terra estranha. Depois de certo tempo ele é jogado numa prisão e esquecido por seus amigos. Contudo, ainda sim, este homem chamado José encontrou forças para continuar depositando confiança no seu Deus, mesmo quando tudo indicava que Deus havia se esquecido dele e das suas promessas.
José estava vivendo a semelhança de Jó, que depois de perder tudo inclusive a saúde, continuou confiando em Deus, quando na verdade não havia nenhum motivo aparente ou concreto para se confiar nele.
A igreja moderna está vivendo uma dimensão triunfa-lista da fé, em que não há lugar para a dor, para a derrota, para o fracasso. Essa “patologia” da fé acredita que todas as doenças têm de ser curadas, todos os milagres têm que acontecer sempre, e que toda sorte de prosperidade tem de vir sobre a igreja.
A grande questão é: Se as doenças não forem curadas, se a prosperidade não vir, e os milagres não acontecerem. Eu continuarei depositando inteira confiança em Deus?
A resposta a essa pergunta pode indicar o tipo de gente que eu estou me tornado.
Existe na bíblia, no capítulo 11 da carta aos Hebreus, um texto que faz afirmações sobre a fé. A esse respeito gostaria de passar a palavra ao Revendo Caio Fábio, em “A crise de ser e de ter”. Vejamos:
“À medida que se parte para a ênfase do ter, perde-se o ser. Isso porque a fé cristã é uma fé baseada totalmente no ser.
Em Hebreus 11.1-40 temos um texto que afirma a fé. Do versículo 1 ao 35 se fala daqueles que foram (ser) e tiveram (possuir, conquistar), como Abraão, que foi e teve [...] No entanto, já do versículo 35 em diante fala-se daqueles que foram e não tiveram [...] Vejo os irmãos adeptos da teologia da prosperidade afirmando o ter. Peço então a eles que leiam Hebreus 11, tentando mostrar-lhes que a fé profunda, genuína, nem sempre é a fé que garante o ter, mas é sempre fé que garante o ser.
O interessante é que do 35 em diante é que se fala dos homens dos quais ‘o mundo não era digno’[...] Não estou dizendo com isto que não possamos ter. Ao contrário, o próprio texto de Hebreus mostra que é possível e é bom ser e ter. No entanto, quando a busca do ter é o alvo da vida, o ser se desvanece”.
A crise de ser e ter
Editora Vinde Comunicações, Pg. 27.

Acredito que precisamos repensar nossa fé cristã, aprendendo a fazer outra leitura de Hebreus 11. Pois como escreveu Paulo Romero: “é necessário ter muito mais fé para sofrer pelo evangelho do que para desfrutar de suas bênçãos”.

2) José se tornou um tipo de gente que, as injustiças da vida não lhe roubaram a capacidade de ser sensível. V.27.

Notem que José está preocupado com seus irmãos, os mesmos que no passado quiseram matá-lo e depois o venderam como escravo.
No versículo 30, percebemos que o grande governador do Egito, um dos homens mais poderosos daquela época, não perdeu a capacidade de chorar. Suas emoções não estavam embrutecidas, seu coração não estava encaliçado.

Não sei explicar todas as razões, mas a igreja que deveria ser o referencial de humanidade está lentamente sepultando sua sensibilidade.
Penso que deveríamos ver mais o por do sol, deveríamos chorar mais ao ver bons filmes, deveríamos passar mais tempo apreciando a natureza junto aos filhos pequenos. Aliás, deveríamos aprender mais sobre sensibilidade ao observarmos as crianças. O cristianismo contemporâneo precisa assistir menos noticiários, ler menos jornais. Necessitamos é de ler mais poesias, ouvir mais músicas que falam sobre a beleza da vida humana. Deveríamos passar mais tempo com os amigos jogando conversa fora. E por ter falado em poesia, gostaria de finalizar transcrevendo uma para aqui:

Em busca do paraíso perdido:

O Édem era pura poesia. Deus fez ali um poema só de metáforas, sem palavras. O suor, que escorreu quando o divino criava, fez-se rio, tingindo os prados de um verde ofuscante. A faísca de seus olhos fez-se luz, vestindo os dias de um claro virginal. O sopro do Senhor afastou a morte das portas do jardim, transformando as manhãs em alvoradas eternas. A primavera perene transformou as flores em rainhas, dando-lhes o poder de colorir o universo de esperança.
Porém, o paraíso desapareceu. O mundo desbotou. Um cinza pálido cobriu nossas almas. Homens e mulheres, ornados de mantos vermelhos, casaram-se com a morte. Anunciaram o nascimento de novos deuses.
Todos ridículos, feios e tristes. O deus do fundamentalismo nunca aprendeu a poesia. O deus do esoterismo não senta em cadeiras de balanço e não conta história sobre mundos imaginários. O deus dos melhores teólogos não sabe dançar, fazer serenata ou adormecer os seus filhos com canções de ninar.
Ah que saudade daquele jardim; útero paternal de nosso mundo. Ah que saudade daquela inocência; inspiração de meus versos simples. Ah que saudade daquele olhar materno; facho do meu amanhã.
No crepúsculo de uma tarde fria, sinto saudade daquela poesia primeira. Quando o sol se agacha em silêncio e a noite deita seu manto negro sobre as colinas, Deus põe sua mão sobre a minha e juntos rabiscamos mais alguns novos versos.

A presença imperceptível de Deus
Doxa Produções, Pg.41

Enquanto a grande maioria busca a Deus querendo ser mais ungido, mais divino. Eu ando na contra mão, e estranhamente quanto mais perto de Deus, mais humano eu quero ser.

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